sábado, 22 de março de 2014

Pedra de Gelo

Se sentou naquele balcão. O garçom levou três, talvez quatro segundos até chegar nele e perguntar o que queria. Por um instante ele olhou fixamente para o homem. Respirou fundo. Talvez ali não fosse o lugar exato pra se estar naquela situação. Os dedos doíam, os pés estavam moles. O corpo com uma dor aqui, outra ali. Do sono nem falava mais: era sua quase-rotina dormir não mais do que quatro horas por noite - não sentia falta do repouso. Piscou demoradamente voltando ao universo atual. Whyski, duas pedras de gelo. Foi seu pedido prontamente atendido. Constatou na comanda que essa era (ou devia ser) uma das bebidas mais caras da casa. Tudo por um punhado de grãos destilados e fermentados na antiga caledônia. Suspirou dando um gole curto. Ao menos aparentava ser original, fiel ao rotulo que postulava atrás do balcão.

Podia arrumar alguma companhia, quem sabe alguem para jogar uma boa conversa fora. Deveriam fazer o quê? Três meses que não falava com ela? Então era assim afinal. Havia superado mais essa. Brindou consigo mesmo sorvendo um gole maior do que o anterior. Ainda era cedo não havia ninguem no lugar. Talvez duas dúzias de pessoas, metade em volta de uma mesa só e duas em outra. As restantes eram um homem barbudo, gordo e com camisa xadrês - um tipico lenhador. O outro era um homem com a barba feita e uma gravata solta. Era sexta afinal de contas. Provavelmente aquele tipo estava esperando colegas do trabalho para comemorarem algum contrato, alguma promoção ou, até mesmo, a morte do chefe. A outra era uma mulher, bonita, bem vestida, que mexia no celular com tanta frequência que devia estar terminando a relação pelo tal do whatsapp. Ponderou se deveria falar com ela. Melhor não, não era correto interferir na briga do casal.

Assim sobrava apenas uma mulher. Aparência simples, sentada em um dos cantos do balcão. A sua frente uma long neck. Será que afogava as mágoas ou apenas esperava as amigas? Decidiu fita-la por alguns instantes. Ela tirou o celular da bolsa. A tela iluminou o rosto dela por alguns instantes. Bonita. A frustração se demonstrou no rosto dela tal qual nuvens de cinzas no céu demonstram a chuva que está por vir. Sorriu de canto, era a hora da caçada. Porém a dúvida lhe resoou de dentro do copo onde apenas as pedras de gelo derretiam silenciosamente: seria presa ou caçador?

Um comentário:

ઇ‍ઉ disse...

Tim-Tim... Brindemos!
rs