quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Natal

O rosto queimava. Postada à janela ouvia algum coral de igreja cantar "então é natal". Pensou com um fino sorriso na face que quase sobreviveu a um natal sem ouvir essa música. Pensamento ridiculo. Se sentia ridicula. A queimação no rosto se dava por conta das lágrimas que irrompiam os olhos, que lhe davam um tom melancolico. Por que não aceitou aquela garrafa de vinho de presente? Caíria tão bem uma bebida melancolica agora. Seria perfeito. Quem sabe a bebida lhe trouxesse a força necessária pra que fizesse o que muito adiava.

Tinha toda a cena na mente, teriam de recolher o que sobrasse dela com uma pá, depois jogar água de um caminhão pipa inteiro apenas pra limpar seu liquido vital da calçada, da rua... de quebra iria parar o trânsito. Muito embora não houvessem muitos carros passando na rua nessa tarde de natal. Quem não tinha ido pra praia estava na casa de parentes. Parentes. Parenteses. Parenteses "circulavam" as palavras. Parentes circulavam o que? Uns aos outros? Outra onda de lágrimas. Debruçou na janela. Oitavo andar. Vinte e seis. Dois mais seis oito. Nunca entendeu nada de numerologia, mas tinha uma certa paixão pelo número oito. Era sempre ele quem lhe dava conforto. O infinito. Pensava, em um dia, leva-lo consigo... mas soava tão cliche que sempre desistia da ideia.

Tudo era cliche. Ela, suas atitudes, até esse pensamento de se jogar. Queria drogas novas. Novas porcarias pra manter sua vida com algum - ainda que pífio - sentido. Será que ainda tinha algum doce? Açúcar podia ser uma boa... não. Deixa. Queria curtir essa melancolia, essa onda depressiva na sua plenitude. Sentir o vento quente que entrecortava os prédios ao redor. Não pularia, não tatuaria o infinito sobre a pele machucada anteriormente. Suspirou ouvindo o último acorde da música que viajava com o vento. Feliz natal, então.

2 comentários:

ઇ‍ઉ disse...

Eu poderia dizer que fiquei impressionada com o que li, tanto quanto tocada... tsc! Mas não, não vou dizes impressionada porque se o fizesse, estaria certamente me referindo a qualquer outra pessoa que não eu. Deus! Magia, a mágica... é exatamente assim. Vês com meus olhos, sente com meu coração, descreve os meus desejos internos, incontidos, secretos... Fala sobre mim, como se houvesse a possibilidade de eu me reinventar de novo. CARALHO... se não fosse pelo encanto do meu tão precioso 8. Haveria milhões de pedaços de mim espalhados, revirados, misturados, sem qualquer chance de me juntar de novo!

ઇ‍ઉ disse...

Não vou "dizer"... fiquei tão, tão... tão com o post que me atrapalhei toda. kkkkkkkkkkkk