terça-feira, 7 de agosto de 2012

Suspiro

Suspirou ao abrir os olhos. Franziu um pouco a testa ao ver a fresta na cortina do quarto - havia deixado propositalmente ela para as noites não serem tão escuras -, queria dormir mais alguns minutos. Olhou o relógio. Proferiu um palavrão, programou o celular para despertar dali meia hora. Os compromissos que esperem. Não deu bom dia pra ninguem, nem pra si mesmo. Aquela meia volta no relógio passou rápido demais. Era quarta-feira. Ainda faltavam... vejamos... um, dois, três dias para o dia que poderia repor o sono que não conseguiu ter durante a semana. Faziam quase dois meses que não dormia direito. Como se ligasse para isso. De verdade, sempre "cagou" para a propria saúde. Tinha os efeitos agora: tomava remédio todos os dias de manha.

No banheiro viu sua cara de sempre. Pensou em socar o espelho por ser tão cretino e lhe mostrar aquela imagem de si proprio distorcida. Trincou os dentes com raiva de si mesmo. Suspirou novamente abrindo o armarinho e pegando sua escova. Havia outra escova ali. Antes de começar a escovar os dentes resolveu ligar o rádio. As emissoras de FM sempre tocando aquelas mesmas porcarias. Ligou o celular na USB do aparelho. O som de uma guitarra extremamente bem tocada preencheu todo o ambiente. Voltou ao banheiro. Agora sim. Escovou os dentes e voltou a se encarar no espelho. Se deu um tapa na face esquerda e outro na face direita. Guardou sua escova de dentes pegando aquela outra.

Fechou os olhos. Suspirou acelerando a respiração. Mentalmente contou de três até zero e arremessou a escova com cerdas um tanto quanto gastas, cabo rosa com detalhes em branco de alguma marca dessas mais baratas mas não tão ruins. Depois da higiente matinal e daquela "vitória" saiu do banheiro rumando para a cozinha. A guitarra habilidosa lhe fazia absorver como se fosse a energia daquele instante em que a gravação foi feita. Abriu a geladeira, pegou o leite - odiava leite quente -, do armário a xícara e o achcolatado - odiava café, até mesmo o cheiro lhe provocava enjoo. Preparou tudo. Foi até a geladeira guardar o leite e achou a garrafa de vodka pela metade - nunca foi de beber até cair, não seria agora que caíria nessa besteira -, a pegou - ou seria? -, abriu - seria mesmo capaz disso? -, colocou o correspondende a menos de uma dose dentro da xícara com o achocolatado.

Devolveu a garrafa à geladeira. Mexeu tudo com o cabo da colher que havia usado para pegar o achocolatado. Bebeu tudo em um gole só. Por um instante se lembrou do aniversário de um amigo na época de escola onde haviam vários tipos de bebidas suavemente alcoolicas - batidas - e que era menor de idade naquele ano. Os avós do seu amigo nem ligavam para isso. Suspirou

ao colocar a xícara na pia já a enchendo completamente de água. Agora sim seu dia podia começar. Voltou ao quarto, olhou a cama bagunçada. Não havia necessidade de arrumar. Caminhou descalço até a sala, onde havia largado os sapatos na noite anterior, sentiu a sujeira do chão grudar na sola de seus pés. Na volta tinha de limpar essa casa. Olhou em volta. Olhou para as paredes - amarelas - e não pensou em nada. Achou estranho pensar em "nada, absolutamente nada". Acabou sorrindo de canto com isso. Foi até o rádio e o desligou retirando dali o celular já o colocando no bolso.

Ganhou a rua depois de trancar a porta da frente. Jogou as chaves no exato bolso oposto ao que havia colocado o celular - evitava que as chaves riscassem mais a já riscada tela do pequeno aparelho -, passou o portão. Na rua colocou os fones e buscou a mesma música que tocava no instante que desligou o aparelho dentro de casa. Suspirou praguejando, mentalmente, a empresa que fez o celular. Por que as listas não estavam perfeitamente organizadas? Proferiu um palavrão mentalmente. Enfim achou a música que procurava. Acelerou o passo.

Cumpriu suas atividades diarias. Já era fim de tarde. Já estava no caminho de casa quando pensou que não haviam motivos para ter pressa de chegar. Ninguem lhe esperava e os programas que gostava de fazer a noite - comer, tomar banho, jogar video game, caçar algum programa interessante na televisão - não tinham horario para iniciar - porém tinham para acabar. Se

lembrou. Havia um motivo para o passo rápido: tinha de fazer faxina na casa. Ótimo. Um objetivo. Entrou em casa já jogando a pasta de trabalho para um lado, reconectando o celular ao rádio e dando inicio à limpeza. Ao fim dela, viu a casa limpa. Sorriu satisfeito e suspirou, agora cansado. Fez o habitué e o dia acabou, foi até a cama e dormiu como a muito tempo gostaria de dormir. Tranquilo.

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