terça-feira, 19 de julho de 2016

Álibi e7s2: Galpão

O ano é 1987. Foi o ano que esse terreno de, aproximadamente, oitocentos metros quadrados no canto leste da metrópole foi vendido pelo seu antigo dono, um ex fazendeiro que viu a grande cidade vindo na direção da sua propriedade. Quem comprou era um proeminente empresário que tinha o objetivo de construir o maior mercado do lugar. Dito e feito, em seis meses subiu aos céus um galpão que cobriu praticamente metade do terreno. Mais dois meses de contratações, de arrumações internas e voila. O "Supermercado BR3" abriu suas portas com uma gigantesca inauguração, foi chamado uma dupla sertaneja que despontava nas rádios populares. Lotou. Nas semanas seguintes passou a novidade. O movimento estabilizou.

No ano de 1994, com a mudança de moeda, o empresário começou a ter problemas e acabou por vender sua rede de supermercados para outra rede de supermercados maior. "Os maiores engolem os menores" foi a frase dele ao ir para outras áreas da economia. Mais alguns anos e a grande rede achou aquela loja pouco lucrativa frente à ganância. Venderam o galpão para um jovem mecânico que prosperou por mais de dez anos customizando carros. O sucesso levou o, agora não tão jovem mecânico, para o centro da metrópole. O galpão foi vendido por um décimo do preço que havia sido comprado mais de vinte anos atrás. 

O dono agora tinha uma oficina mecânica de reparos, nada sofisticado. Um ano depois, após uma denúncia anônima, a polícia descobriu que, na verdade, o tal mecânico era na verdade o líder de uma quadrilha que desmontava carros roubados. Depois de inúmeras investigações algumas peças foram devolvidas a seus donos, algumas encaminhadas para leilão, algumas pro carro da esposa do delegado que havia atropelado um mendigo voltando de uma casa de massas onde ela havia bebido taças de vinho a mais, tudo pela frustração na vida de casada. Pelo visto um assassino, ainda que culposo, é capaz de aproximar casais. 

Já no galpão que viu os tempos áureos do bairro via o detrimento do mesmo. O silêncio repousou por ali, só sendo quebrado, vez por outra, uma criança passava por ali correndo atrás de sua pipa. Fora isso o galpão repousava em seu silêncio rumo ao futuro. Até aquele dia. Uma moça entrou, espalhou por entre as pilhas de sucatas de carro fios, explosivos caseiros. Horas mais tarde um rapaz um pouco mais velho que a moça apareceu. Enfim o galpão achou que, depois de muito tempo, veria algum movimento. Palavras rispidas. Foi quando o galpão suspirou vendo a fagulha. O estrondo. Nos dias que se seguiram o terreno voltou à tranquilidade e à paz de quase vinte e tantos anos atrás.

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