domingo, 12 de outubro de 2014

Aproximação

Então era isso. O clique da porta ecoou por não mais que dois segundos no apartamento onde dormia. Ela sabia que tinha que sair dali, sabia que a policia estava vindo. Sabia que eles a prenderiam. Sabia que tudo que tinha cometido não tinha perdão. Sabia de tanta coisa que agora, nesse instante, preferia não saber mais absolutamente nada. Preferia esvaziar a mente. Tinha de planejar um plano de fuga. Por anos aquele lugar havia sido seu esconderijo mais seguro, repleto de saídas, repleto de rotas de fuga este era o local ideal para ela estar sempre.

Agora ele era o lugar onde todos a procurariam. Havia sido traída por aquela que deixou o recinto segundos antes. Ou seria por outra pessoa? E se a pessoa que saiu da cama a deixando parcialmente no frio e sozinha apenas foi comprar leite e pão para o café da manhã? Tantas dúvidas pairavam em sua cabeça que não conseguia pensar em nada. Nem ao menos num plano decente de fuga. Sabia que tinha poucos minutos. Anos atrás havia investido uma boa quantia em dinheiro comprando um rádio que captava a frequência do rádio da polícia. Mais que isso: esse rádio estava ligado a um computador que ouvia cada mensagem, cada minima menção ao local onde ela julgava ser sua toca mais segura naquela cidade imunda e decidia se era ou não uma ameaça. Agora era um desses casos. Era uma ameaça real. A polícia chegaria em pouco mais de três minutos, mas ela não tinha forças para se mover. Será que havia sido por esse motivo que sua pessoa saiu sem dar satisfações? Não. Provavelmente ela não quis acorda-la. Provavelmente ela havia ido apenas a padaria que ficava no fim da rua, não mais do que dois quarteirões, do que oito minutos, daqui. Era isso. Quando ouviu a sirene se aproximando - tinha um bom ouvido para isso - soube que eles viriam e que estavam a poucos quarteirões. Rotas de fuga? Pelo toque dissonante e não cadenciado eram três viaturas, cada uma com, pelo menos, dois policiais. Era problemático? Era. Sobretudo se elas viessem cada uma de um lado.

Essa cidade desgraçada fazia os ventos que traziam os sons ricochetearem sem sentido pelo ar chegando aos ouvidos treinados dela como se viessem de um lugar onde, realmente, não estão. Estava vestida apenas com o lençol quando as sirenes se aproximaram mais. Mais e mais. Suspirou crente que havia chegado a hora que seria, enfim, capturada. Fechou os olhos ouvindo as sirenes cessando. As viaturas estacionaram ao redor do prédio. Então era isso. Era o fim. Foi quando a porta destravou e dela passou Aliana carregando um saco com não mais que três pares de pão fresco e uma garrafa de leite igualmente fresco. Ela trazia o jornal e um sorriso fino nos lábios, a polícia estava no quarteirão anterior. Não foi dessa vez que ela seria capturada e, com sorte, não seria nunca.

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