quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Há males

O cabelo curto não era opção, mas era o menor dos males depois de tudo que ocorreu nos últimos meses. As cirurgias, as sessões de quimioterapia, de radioterapia. Para Raquel a vida, realmente, começava aos 40. Na verdade aos 42, já que aos 40 ela praticamente acabou com a descoberta, em um exame de rotina, de um cancer em estágio avançado em seu ovário direito. Poderia ser tirado, porém haveriam sequelas, ela não poderia mais ter filhos. Já tinha um, Felipe, com 14 anos. Seu marido a apoiou o quanto conseguiu... mas a tensão daquele tratamento todo acabou com ele. Acabou com o casamento de 28 anos. Quase acabou com tudo. Algumas semanas depois do inicio das sessões o vistoso e longo cabelo encaracolado de Raquel começava a cair, num rompante ela pediu que raspassem tudo de uma vez. Melhor assim. O esparadrapo tirado de uma vez só doi menos. O tratamento durou dois longos anos. O marido se foi, o filho estava sempre perto. Algumas amigas se afastaram, outras deram a força que ela precisava para superar. Ao fim notou numa manha de sábado os cabelos voltando com força. Os primeiros cachos, as primeiras "molinhas" surgiam em todos os cantos do couro cabeludo. Estava, enfim, curada. Numa consulta de rotina conheceu o pai do seu filho mais novo, Rafael. Que agora tinha pouco menos de seis meses. Lembrou-se de uma frase de sua mãe enquanto caminhava pela rua e pensava em tudo que havia passado: Há males que vem para o bem.

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