sábado, 10 de março de 2012

estrelas

Atravessei sem olhar para os dois lados da rua achando que essa rua era de mão única. Ao ouvir uma buzina tive a certeza que não era. Droga. Apressei o passo, queria chegar o quanto antes. O quê diria? Pediria pra entrar ou me sentaria no batente da porta esperando que ela, por mero fruto do acaso, abrisse a porta? Tantas dúvidas e apenas mais um quarteirão pra caminhar em passo acelerado. De longe o prédio dela se destacava, inteiro num tom salmão. O olhei inteiro diminuindo, levemente, o ritmo dos passos. No alto havia uma grande antena - ou seria um pára-raio? Nunca soube ao certo - que apontava para o céu azul escuro, pontilhado das primeiras estrelas da noite. O porteiro, ao me ver, sorriu já abrindo a porta. Me deu seu boa noite mais polido e já foi chamando o elevador. Aquele número congelado naquele visor vermelho. Alguem estava segurando o elevador no sétimo andar. Passaram-se dez segundos. "Deixa". Balbuciei ao porteiro já indo para a escadaria. Os primeiros andares subi saltando os degraus, mas, os
últimos dois foram me arrastando. Cheguei no andar do apartamento dela. Eu não tinha decidido se bateria ou me sentaria no batente. Droga. A porta dela era a única que tinha um tapete - que eu havia dado -, com desenho de borboletas, escrito "Bem Vindos". Sorri ao ver o tapete. Se escolhesse me sentar no batente não ficaria no chão frio. O tapete me serviria de... de... de tapete mesmo. Balancei a cabeça negativamente pros lados pensando que o tapete seria feito de tapete. Imaginei o tapete reclamando que ele só foi feito para ser pisado, não sentado. Que pensamento idiota. Credo. Assim que me aproximei a porta se abriu e todas as dúvidas evaporaram. Oitavo andar. Faz sentido ela morar tão alto. Afinal, as estrelas vivem no céu, não é? Meu sorriso cansado foi brindado pelo sorriso aconchegante dela, um passo para o lado e o "vem" me fez entrar. Não bati, não me sentei no batente. Não fiz o tapete se rebelar. Agora não havia mais nada entre mim e as estrelas. Não as do céu, aquelas brilham pouco, mas as estrelas no olhar dela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Recostei a bochecha nas pontas dos dedos. Acomodei-me ao encosto da cadeira. (ainda estou ouvindo a canção que fracionei a ti) Li cada linha como quem devora o brigadeiro de colher. Mas relia em seguida porque acelerava a cena e não queria perder nenhum detalhe. Quase que li duas vezes simultaneamente o mesmo. Ao ver o "elevador parado" as lágrimas não esperaram. Ofeguei contigo a cada próximo lance de escada. Curiosamente senti apertar o peito e ao dizer que sorri, (sorri entre lágrimas). Deus... agora estou chorando, passando a manga do pijama nos olhos. Mordendo o lábio e sentindo revirar no meu estômago as borboletas do tapete. Porta 84, do 8 andar. Dia par! Eu penso nessas bobagens e ligo pontos que ninguém vê. (acho que tenho toc, ou sou retardada mesmo) Mas acredito que se o dia fosse impar. Se a porta fosse 7 e no 7 andar. Ter-te agora seria como se tudo fosse par e rosa. (perfeito) Você deve ser mensageiro de Deus. Um anjo que ele escondeu no corpo humano. Acho que você é quem gurda ou me guarda. Não sei. Sei que romper em lágrimas é algo que faço bem (sempre), mas desintoxicar-me através delas, só mesmo você é capaz de me fazer... fazer. Te Amo.

Ass. Bell