terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fila do Açougue

essa é meio antiga, eu tinha prometido pra mim mesmo escrever uma crônica nova sobre o amor... massssssssss não saiu, então vamos com essa velha que escrevi à alguns anos na fila do mercado...



Uau, que fila!

Quantos tem na minha frente... 'um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez... onze!' Onze pessoas na minha frente. Provavelmente atraidas pelas mesmas ofertas que eu. Bah, maldita televisão que "propagandeia" os preços e lota as filas dos açougues.

Aquela 'tia' ali na frente ta comprando meio estoque... assim não vai ficar nada pra gente aqui atrás.

Ahhh agora não sou mais o ultimo, entrou uma moça atrás de mim. E que moça... morena clara, roupa de ginastica, cabelos longos, coxas bem torneadas... uma maravilha de mulher. Vou puxar assunto... mas, o que falar? "Os preços estão bons né?" Nããão... isso não! "ê fila hein..." não, isso também não... os outros "participantes" da fila poderiam se sentir ofendidos e passar a me olhar torto.

Menos duas, agora um homem aparentando seus quarenta, quarenta e cinco anos está escolhendo seus "pedaços de cadaveres". Solto um riso, a gente se alimenta de outros seres mortos... portanto a gente come cadaveres! Depois passa uma matéria na televisão em que determinada tribo do oeste de algum país da Africa come carne humana e todos ficam horrorizados. A gente "normal" não fica nada atrás, apenas comemos outros cadaveres.

Hum... esta aí, podia puxar esse assunto filosofico com a moça atrás de mim. Nãão, ela faz academia. Não deve nem ter se dado conta que comemos cadaveres, nem deve ligar. E além do mais ela não vai nem entender o assunto e vai ficar achando que sou louco.

O homem saiu, entrou no seu lugar uma senhora de, no minimo, sessenta anos. Coitado do açougueiro, tem que debruçar por cima do balcão pra ouvir a senhora. Ela compra um saquinho de cadaver e vai embora feliz.

Volto a olhar para minha "deusa morena". Olho discretamente, claro. Mas se ela encrencar eu digo que sou estrabico, que na verdade eu estava olhando para a prateleira lá do outro lado, tentando, em vão, ler o preço do pão de forma.

Já sei!!! Vou perguntar as horas. Ótimo! Como não pensei nisso antes? Olho para o meu relogio no pulso. Faço uma careta. Trago-o proximo do ouvido finjindo que a pilha acabou. "Droga" digo baixinho, mas alto o suficiente pra "minha" morena ouvir. "Que horas são, por favor?" digo olhando fixamente pra ela. Ela abre o celular que até então eu não havia percebido, lê o horario. "Seis e trinta e quatro..." senti que não fui só eu que pensava em puxar assunto mas não sabia com o que. "Obrigado..." respondi olhando firme nos olhos dela com um pequeno sorriso de agradacimento. "... nada" disse ela. "Nada"??? O que ela quis dizer com "nada"? ahh sim... "nada" de "disponha".

Dou um riso pequeno enquanto me viro pra ver a quantas anda a fila da carne. Mais uma, duas, três... quatro pessoas ainda.

Me viro para a moça que ainda não sei o nome. "fila demorada..." "pois é... mas olha atrás de nós... -ela disse 'nós', então já somos um só- tem muito mais gente." "Verdade..." respondo ainda não acreditando que eu e ela já somos um só. "Próximo" ouço a voz caracteristica do açougueiro. Não, ainda não é minha vez. Penso em puxar outro assunto, esse durou muito pouco. Me viro pra ela afim de perguntar se ela tem onde jantar hoje. Assim que me viro um homem se aproxima dela. Vem olhando fixamente pra ela. "Irmão..." eu penso. O homem, já chega dizendo "oi amor...". Droga, ela não é solteira! Dou as costas a ela em protesto. Sim! Eu estava bravo! Por que ela não disse que era comprometida antes da gente se envolver? Minha vontade era pegar a faca mais afiada do açougueiro e cravar nela.

"Próóóximo" minha vez. Desperto da minha, fertil, imaginação, compro meus cadaveres em bifes finos e saio para o proximo comprar seu cadaver.

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