quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Hubb

A vida onde Aleph havia nascido não era boa, mas também não consigo chegava a ser ruim, as perspectivas de estudo e de trabalho não eram as melhores. Foi assim, nesse turbilhão de coisas que ele se deixou convencer pelo discurso de um grupo paramilitares desses que vez por outra matam uma centena de pessoas. Recebeu treinamento, sabia usar um kalashnikov como poucos da sua antiga vila, conhecia o complexo onde estava como a palma da sua mão, sabia os corredores, os túneis por que interligavam cada prédio... ele tinha encontrado um propósito pra sua vida. Farlabah, ao contrário dele, não se juntou ao grupo por vontade própria, mas não era prisioneira, ela podia ir embora a hora que quisesse. Mas, como ela mesma dizia, por enquanto estava bom. Aleph, por um acaso trombou com ela num dos tuneis. 

Ela estava cansada da violência que o grupo propagava, mas ele seguia cego, iludido pela propaganda do grupo. Eles não sabiam, mas um amava o outro. Por isso ele foi atras dela quando ela recolheu seus poucos pertences e estava indo pelo caminho que saía do complexo. Ele, desesperado sem saber o que sentia sacou a pistola e apontou para ela. Uma ameaça. Bateram boca. Quando ela deu as costas para ele, ele, com a mão esquerda, a segurou pelo braço. Ela tentou se soltar. Foi aí que veio o estampido. Lado esquerdo, próximo ao rim. Era fatal. Não imediato. Por isso mesmo ela tentou tomar a arma dele. Veio  segundo tiro. Meio do peito, pouco abaixo da caixa toracica. Os dois corpos caíram juntos. No ar as mãos se entrelaçaram. Descobriram o sentimento na hora do fim. Bem dizem que o ápice é a melhor coisa da vida. Vida. Ele dezessete. Ela dezesseis. 

Vida. 

Morte.



Nota do autor: "Hubb" é a pronúncia de "amor" em árabe, se fosse ser escrito em alfabeto árabe seria: حب

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