terça-feira, 10 de novembro de 2015

Álibi VI

Havia dado mais de um mês entre uma ação e o agora. Sophia sentia que era hora de continuar seu plano. Faltava muito pouco tempo para o final do ano e ainda tinha três alvos na sua meta. E se não conseguisse? Pergunta idiota. Claro que conseguiria. Por mais dificil que fosse ela sempre conseguia alcançar os objetivos que dava para si mesma no começo de cada ano. Fossem eles qual fossem. Claro que, numa cidade nova, como esse ano, ela teve de pegar mais leve. Em anos anteriores a conta tinha passado de duas dezenas. Porém, naquele ano em especial, ela estava em um ambiente que ela não conhecia completamente.

Tudo começava abrindo aquele pendrive do fórum em que estagiava que lhe dava as senhas dos arquivos deixados em um HD virtual. Naquele ano farto que teve ainda não confiava plenamente na internet e suas facilidades. Por isso guardava tudo em papel impresso. E foi esse papel impresso que lhe trouxe a ruína. Foi a única prova que lhe incriminou. Na hora em que sua máscara caiu pegou tudo que pode, colocou algumas roupas na mochila e, a caminho da rodoviária comprou uma tintura ruiva. Teve de abandonar as madeixas loiras que sempre foram sua marca registrada. Sempre foram seu chamariz. Sempre foram as mais perfeitas iscas. Embora ela tenha provado que, uma vez ruiva, atraía tanta atenção quanto sempre atraiu.

Devaneios a parte era hora de concentração e estudar os poucos hábitos de seu próximo alvo. Ele gostava de nadar em um clube desses de gente rica. Será que seria dificil para Sophia se infiltrar, o atrair e... porque não inovar. Já que "sua" casa estava praticamente toda destruída tinha de pensar em novas formas de agir. Com um pouco de engenharia social e uma boa lábia conseguiu se cadastrar no clube com outro nome. Tinha de ir um dia, descobrir todas as câmeras e saber evita-las. Claro que foi lá apenas uma vez. Ficou visivel para seu alvo. Ela trajava uma calça leggin tão justa que se respirasse de forma mais pesada temia estoura-la. Ele a viu. Ela deu a entender que estava dando mole. Um peixe tão fácil de fisgar que poderia ter economizado trinta reais nessa calça ridicula.

Em um movimento rápido entregou a ele o número de celular que ela havia comprado minutos atrás. Só teria esse número por alguns dias. Para ativar a linha colocou um dos inúmeros CPFs que guardava no fundo falso do notebook. Ao sair do clube não demorou dez minutos e o alvo lhe ligou. Perfeito. Ele disse ser um dos presidentes do lugar e que ele tinha acesso às chaves. Mais perfeito que isso apenas se ele já estivesse morto. Quer dizer, se ele já estivesse morto não haveria motivo de mata-lo e ela teria de achar outro alvo afim de completar sua meta. Combinaram um barzinho no fim de tarde. Como Sophia esparava ele bebeu mais do que o suficiente para sair da sobriedade. Não precisava de mais nada.

Voltaram ao clube por um comentário despretencioso - ou outra isca? - que Sophia jogou: ela tinha vontade de nadar nua com ele. Qual homem não acharia isso perfeito? Uma ruiva, jovem, bonita querendo nadar nua em um clube que se é um dos presidentes? Voltaram ao clube, vinte e duas e dezoito. Sérgio, noivo de Sophia, estava de plantão do outro lado da cidade e dificilmente chegaria aqui antes do amanhecer. Amanhecer, que era o fim de seu turno. Cairam na piscina nús. Sophia agradeceu mentalmente à sua irmã mais nova pela mesma ter lhe ensinado a nadar.

Aquelas mensagens que bombeiros dizem dos perigos de se beber e entrar no mar ou na piscina são reais. Talvez um tanto quanto exagerados. Mas não precisou mais do que vinte minutos dentro da água para o alvo começar a demonstrar sinais de que não aguentaria muito mais. Claro que uma pequena ajuda fez o corpo afundar mais rápido. Sophia parecia estar com mais pressa do que o habitual. Tinha pouco tempo e uma meta a cumprir. Por isso a pressa. Era o que dizia para si mesma. Era o que deveria ser verdade. Aliás, era a verdade.

Poucos minutos depois caminhou de volta até o carro. Prendeu os cabelos com a toalha que havia trazido de casa. No caminho para casa pensou que ainda tinha mais dois alvos até o final do ano. O tempo era apertado. Mas ela adorava desafios. Nem todos eles, claro. O desafio agora era escolher algum seriado que lhe prendesse a atenção por algum tempo e lhe inspirasse em novas ações. Achou. 

Nenhum comentário: