sexta-feira, 26 de junho de 2015

Prólogo - Álibi IV

Doença. Provavelmente até os melhores já passaram por isso. Aliás, doença, inclusive, já levou muita gente. E, com Sophia, não era diferente. Como dizia sua mãe que desgraça pouca é bobagem primeiro um resfriado que se tornou gripe e, graças aos cuidados de seu noivo Sérgio tudo não evoluiu para uma pneumonia ou algo mais grave.

Durante sua reclusão forçada acabou faltando aulas da faculdade. Todas as faltas seriam justificadas e todos os eventuais trabalhos seriam compensados de alguma forma. Era tudo que ela queria para voltar ao que considerava ser quase uma missão. Quando se preparava para voltar, fazer todos aqueles dossiês mentais que fazia de suas vitmas outra interpere cruzou seu caminho: um degrau pisado em falso e lá se ia o tornozelo esquerdo. Logo o esquerdo. O pé da má sorte fazendo mais uma das suas.

Por não conseguir repousar o tempo certo e temendo perder mais aulas e acabar reprovando em alguma disciplina Sophia forçava os passos, não tinha medo de caminhar pelos corredores do Fórum durante a tarde e pelos corredores da faculdade durante a noite. E de manhã mantinha a faxina do apartamento em dia. Sérgio quase brigava com ela por não conseguir parar quieta.

Ela não conseguia parar justamente por não poder fazer o que tinha planejado fazer durante aquele ano, se movimentar com coisas cotidianas lhe faziam espairecer. Já tinha atrasado o mês de abril, maio, junho e agora, em julho, tinha de retomar. Era sua tarefa. Nos dias que o tornozelo não a deixava caminhar muito fazia suas pesquisas nos bancos de dados da polícia. Buscava um novo alvo. Uma nova cena que pudesse dirigir por completo. Quando pensou nisso novamente a ideia de cena veio à sua mente. Será que ela não se daria melhor fazendo um curso de cinema? Talvez no verão. As leis eram sua paixão.

Apesar de reclusa na maioria do tempo, Sophia tinha lá sua cota de amigos na faculdade. Alguns amigos e algumas amigas. Habilmente escolhidos por inúmeras habilidades e por tons de afinidade em alguns assuntos e por tons de dissonância. Também tinha esse mesmo "cálculo" no estágio. O que, segundo pensamento dela, lhe traria alguma vantagem num momento oportuno. Fosse contato profissional, fosse o que fosse.


Dessa cota de amigos talentosamente selecionados uma amiga se destacava um pouco. Ela se dizia melhor amiga de Sophia e Sophia tinha lá sua dose de carinho por essa amiga. Não era grande a dose, se fosse possivel classificar entre números de um a dez, Janaína teria seus sete pontos e meio. E, por mais estranho que pudesse parecer, Janaína fazia um totalmente diferente. Ela cursava Publicidade. Viviam às voltas pelos corredores conversando sobre os mais variados assuntos. Desde Tolstói, Bukowski e Kant até receita de estrogonofe, cor de unha até marca de absorvente sem abas.

Foi em uma noite de animada conversa que soube de Janaína a existência de um professor que assediava alunas. Que abusava de sua autoridade como professor. Que agia arrogantemente. Como boa ouvinte Sophia prestava atenção nos relatos imaginando como seria bom se livrar desse cara. Já conhecia um pouco a má-fama do sujeito, mas nunca soube de algo além de soberba e um ego elevado.

(... continua na segunda)

Nenhum comentário: