quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ponto

Não andava bem, e não era apenas pelo pé arranhado, o calcanhar partido. Era algo maior, algo interno... não, algo interno também não cabia pro que sentia. Maior, maior, infinitamente maior que o que podia carregar dentro de si - e olha que podia carregar muita coisa dentro do peito! - ou nas mãos. Algo externo a envolvia, lhe cobria dos pés a cabeça. Meditação foi a sugestão que deram. Sentar na clássica posição de lótus, respirar suavemente, acender um incenso de alguma fragrância levemente adocicada e apreciar o silêncio. Algo relativamente impossivel com o trafego de aviões constante. Só tarde da noite teria a quietude para - tentar - meditar. Ainda que não acreditasse em meditação tinha de tentar algo.

Se fosse alguns anos atrás já teria abandonado todos os controles e voltado àqueles pensamentos de forma mais intensa. Teria voltado ao frio do metal. Ao frio do mar. Ao vento do parapeito no terraço do prédio. Agora tinha controle sobre esses pensamentos. Agora podia se concentrar sempre que viesse uma onda saudosista por aqueles pensamentos, por aquelas atitudes. Respirava fundo e pronto. Tomava um colorido e pronto. Tomava um porre e pronto. Sempre dava certo. Sempre até agora.

Respirou fundo até quase perder o folêgo. Tomou coloridos até quase dormir dias seguidos. Tomou porres um em cima do outro. Nada mais fazia efeito. Fechava os olhos, buscava explicação, buscava o ponto chave do que lhe incomodava. Buscava dentro de si o que estava apegado à alma.

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